quarta-feira, 8 de agosto de 2007, 08:35 --
China abre contagem para a maior Olimpíada da história
Há um ano do início dos Jogos, país quer mostrar sua 'nova cara', e para tal investe cerca de R$ 65 bilhões
Amanda Romanelli e Jamil Chade, do Estado
Han Guan/AP
Para começar a contagem regressiva para os Jogos Olímpicos, Pequim fez uma grande festa
SÃO PAULO - Acostumada a proporções monumentais, a China faz contagem regressiva para, daqui a um ano, realizar os maiores e melhores Jogos Olímpicos da história. A promessa está diretamente, obviamente, ligada ao astronômico orçamento do torneio de Pequim: pelo menos US$ 34 bilhões (cerca de R$ 65 bilhões) foram gastos para a construção de 12 novas arenas e a total remodelação da capital chinesa. Mas está relacionada também aos anseios do maior país comunista do planeta. Sediar a Olimpíada é a grande oportunidade de mostrar ao mundo a 'nova China', aliando costumes milenares à modernidade - ainda que muitos protestem contra a violação de direitos civis.
O velho e o novo estarão juntos já no primeiro dia dos Jogos. Aproveitando uma rara coincidência proporcionada pelo calendário, a Olimpíada de Pequim começará, oficialmente, em 08/08/2008. E às 8h08 da noite. Tanta repetição demonstra a importância do número 8 para os chineses: indica sorte, fortuna, prosperidade. Uma característica cultural que será mostrada aos estimados 4 bilhões de espectadores dos Jogos em todo o mundo, na cerimônia dirigida por Steven Spielberg, numa engenhosa construção arquitetônica, o Estádio Nacional de Pequim. O projeto arrojado, um emaranhado de aço, é conhecido como 'ninho do pássaro'.
Pequim receberá 31 das 34 modalidades olímpicas. Além do monumental Estádio Nacional - o único local de competição que não ficará pronto até o fim deste ano -, a capital chinesa apresentará o Centro Aquático, outra obra de tirar o fôlego: sua fachada translúcida, com tonalidade azul, faz com que a estrutura se assemelhe a uma série de bolhas de sabão. O Parque Verde, que concentrará grande parte dos outros locais de competição, será quase dez vezes maior que o parque olímpico de Atenas. As outras três modalidades restantes - futebol, vela e hipismo - estarão distribuídas em cinco subsedes, entre elas Hong Kong.
Os Jogos Olímpicos de Pequim, porém, não irão captar atenção mundial apenas pela promessa de recordes esportivos quebrados ou por suas magníficas construções. Será a chance do país mostrar que está preparado para abrir suas portas ao mundo ocidental, sem temer críticas ou contestações. Um hiato de 18 anos sem grandes protestos, como foi quando estudantes e trabalhadores tomaram a Praça da Paz Celestial, em 1989, pode ser encerrado. Resta saber como o país reagirá.
A China e o Comitê Olímpico Internacional (COI) já sofrem ataques por parte de ativistas e de atletas. Questões de direitos humanos, política e meio ambiente fazem parte da agenda de protestos, que devem se prolongar pelos próximos 12 meses. Organizações como a Anistia Internacional atacam o evento, alertando que o movimento olímpico poderá ter sua imagem manchada por anos ao permitir que o governo chinês continue violando os direitos humanos.
Entidades acusam o governo chinês de não cumprir a promessa de proteção aos direitos humanos e deter endurecido repressão contra jornalistas. "As promessas feitas por Pequim até agora não passam de palavras", afirmou uma assessora da Anistia Internacional à Agência Estado. A entidade lidera protestos e tem sido apoiada por pelo menos duas outras importantes organizações - a Repórteres Sem Fronteiras e o Human Rights Watch.
Os Jogos também servirão para reivindicações políticas domésticas. A entidade Tibete Livre quer aproveitar a chance única de exposição da China para denunciar as violações cometidas por Pequim contra a região, que há décadas reivindica sua independência. O ministro da Segurança Pública, Zhou Yongkang, exigiu que a polícia combata energicamente "forças hostis". E enumera o divisionismo étnico - um claro recado para o movimentos pró-libertação do Tibete - como umas das principais ameaças à pacífica realização dos Jogos.
As reclamações, contudo, já começam a aparecer no exterior. Dizem respeito, basicamente, às condições de recepção aos estrangeiros. Nesta terça, o Comitê Olímpico Australiano afirmou que seus atletas permanecerão o menor tempo possível em Pequim, por causa da poluição. Os chineses são considerados um dos maiores poluidores do mundo e as conseqüências para a saúde dos atletas podem ser negativas, temem os australianos.
Para evitar este problema, o governo chinês limitará a entrada de 1 milhão de carros na região central de Pequim a partir da próxima semana. Ainda para reduzir o nível de emissão de CO2, 3 mil ônibus que circulavam pela cidade foram trocados e fábricas que ficavam perto dos locais de competição serão desativadas. Os chineses prometem até fazer chover. Usarão artefatos químicos para permitir nuvens de chuvas em algumas regiões para evitar a concentração da poluição.
A organização dos Jogos tenta, ainda, fazer mudanças comportamentais. O 'chinglish', inglês peculiar - para não dizer incompreensível - dos chineses tem sido combatido para facilitar a comunicação com os estrangeiros. Campanhas de bons modos também tem sido realizadas. Alguns costumes desagradáveis aos ocidentais, como cuspir no chão ou furar filas, são condenados. Pessoas flagradas nestes atos receberão multas equivalentes a quase R$ 14. E pelo menos no que diz respeito às vaias, os atletas estrangeiros não serão hostilizados como ocorreu no Pan do Rio. As autoridades chinesas ameaçam com prisões e multas os torcedores que não souberem se comportar.
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Um comentário:
necessario verificar:)
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