30/07/2007 - 10h41-Rodrigo BertolottoEnviado especial do UOLNo Rio de Janeiro
Políticos querem que legado do Pan dê lugar a shopping e shows
O clima é de fim de feira no Rio após o Pan-Americano, mas, pelos projetos dos governantes locais, parte dos cenários que viram a campanha recordista do Brasil vai virar palco de outras feiras, se transformando em shopping, centro de convenções, hotel ou casa de shows.
Pólo Aquático foi jogado no parque Julio Delamare, um dos alvos de Sérgio Cabral
O estádio de remo da lagoa Rodrigo de Freitas pode virar um "espaço cultural"
O velódromo que usou madeira da Sibéria pode ser transformado em casa de shows
O governador do Rio, Sérgio Cabral, já apresentou o projeto de demolir o tradicional parque Julio Delamare, que recebeu as partidas de pólo aquático. A idéia também colocaria abaixo o estádio de atletismo Célio de Barros - ambos fazem parte do Complexo do Maracanã, como o ginásio Maracanãzinho."Esses espaços não são tombados e podem ser convertidos em equipamentos que completariam o Maracanã, como estacionamento, shopping e outros", disse o mandatário fluminense, ao apresentar a idéia para a empresa que reconstruiu o estádio de Wembley, na Inglaterra.Apesar da revolta dos dirigentes de atletismo e natação, Cabral está mais preocupado com a perspectiva de o Brasil sediar a Copa do Mundo de futebol de 2014. A pista do Célio de Barros é local de treinamento de 150 atletas, enquanto as piscinas do Julio Delamare são utilizadas em programas de inclusão esportiva e formação de base de nadadores.O prefeito carioca, César Maia, apoiou a iniciativa do governador, enfatizando que só o Maracanã é tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)"O importante é o funcionamento do Maracanã, com seus Fla-Flus", afirmou o prefeito, mostrando que, mesmo com o Pan recém-acabado, a cultura futebolística é a que predomina para o político.O Estádio de Remo, situado na lagoa Rodrigo de Freitas, é outro alvo dos governantes. Já no projeto inicial, o local teria um shopping, mas a obra foi parcialmente embargada após ação civil. A idéia é fazer um "espaço cultural", com cinemas, restaurantes e estacionamento. Os moradores da vizinhança não querem uma construção tampando a vista para o cartão postal carioca.O governador disse que o legado para os remadores são as raias e os barcos, mas vai insistir para ter a "área de entretenimento" por lá. Para o Pan, parte das arquibancadas foram construídas com tubulações provisórias no terreno que vive a briga judicial.Já César Maia quer transformar outras construções feitas para esportes bem específicos em "locais mais rentáveis". Sua proposta é fazer do parque aquático Maria Lenk um local para jogos de tênis e espetáculos musicais."Estamos pensando em criar uma base para que sejam disputados jogos de tênis, além de shows. A natação não é rentável", sentenciou o prefeito, esquecendo que logo ao lado se situa a Arena Multiuso, usada para a ginástica e o basquete no Pan, que pode facilmente ser convertida em local para apresentações musicais. Somadas as idéias de Maia e Cabral, o Rio vai ficar sem nenhuma das piscinas que viram a natação, o pólo, o salto ornamental e o nado sincronizado ganharem medalhas para o país.O prefeito, porém, tem também outra idéia para o Velódromo, construído próximo ali em área que correspondia ao autódromo de Jacarepaguá. Mesmo com o déficit de locais especializados em receber eventos de ciclismo no país e com o detalhamento dos materiais que foram importados para receber o evento das bicicletas (o piso é de pinho da Sibéria), a prefeitura do Rio quer aumentar a capacidade de público e fazer um tratamento acústico para transformar o local em casa de shows.Pelas pranchetas dos governantes do Rio, saem os atletas das arenas do Pan e entram os artistas, os consumidores de shopping ou os executivos em congressos - como vai acontecer no Riocentro, centro de convenções que abrigou dez modalidades do Pan, além dos centros de imprensa e TV montados para a competição. Até o final do ano, local vai abrigar uma feira de veterinária, além da Bienal do Livro. Saem os medalhistas, entram os cães e gatos.
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