sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Por 2ª Copa no Brasil, CBF diz não ao sonho olímpico do Rio

RECORDANDO 2003

20/07/2003 - 09h13 --FERNANDO MELLOda Folha de S.Paulo

Por 2ª Copa no Brasil, CBF diz não ao sonho olímpico do Rio

Não bastasse ter como rivais algumas das maiores potências do planeta, no que foi definido pelo Comitê Olímpico Internacional como a mais dura disputa da história pelos Jogos, a candidatura do Rio a 2012 ganhou um inimigo dentro de casa: a Confederação Brasileira de Futebol.A entidade não enviará à Prefeitura do Rio documento considerado essencial pelo COI, expondo o racha entre Ricardo Teixeira e Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.A disputa política entre os dois mais influentes cartolas do país será agravada pela negativa da CBF em assegurar que, durante o "período olímpico" --cerca de sete semanas-- não haverá nenhuma partida de futebol por torneios oficiais no Grande Rio."Não posso alijar os times do Rio da disputa do Campeonato Brasileiro. Também não posso interrompê-lo por quase dois meses. Por isso, não temos como dar esta garantia", disse Teixeira à Folha, por telefone, de Miami, onde acompanha a seleção sub-23.São várias as alegações oficiais para a CBF não atender ao ofício de Ruy Cezar, secretário de Esportes do Rio. A primeira é que o futebol não pode ter prejuízos por causa da Olimpíada. Pelo raciocínio, os clubes não arrecadarão dinheiro sem jogos, seja via bilheteria, seja pelos contratos firmados com a TV. Para completar, teriam que continuar pagando salários a seus atletas e funcionários normalmente. Poderia haver quebradeira, argumenta a CBF.O segundo motivo oficial está no prazo de paralisação. Além dos 16 dias da competição, o COI determina que não podem ser realizados eventos na sede olímpica nas duas semanas anteriores e nas duas posteriores aos Jogos.Antes de tomar a decisão, Teixeira consultou Eduardo Viana, o Caixa D'Água. O presidente da Federação do Rio concordou e disse também não estar disposto a dar o aval para a paralisação.Para além dos motivos oficiais, no entanto, estão em jogo as disputas históricas entre CBF e COB, Teixeira e Nuzman, CBF e governo federal, Fifa e COI, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.Ao criar dificuldades para a candidatura do Rio, Teixeira pensa em sua maior meta, algo que nem seu ex-sogro João Havelange conseguiu: realizar uma Copa no Brasil. Na avaliação do dirigente, se o Rio vencer, diminuiriam consideravelmente as chances de o país abrigar o Mundial em 2014.Embora publicamente diga que não, a CBF trabalha fortemente com a possibilidade de apresentar "candidatura-tampão" para ser sede da Copa em 2010.Para isso, Teixeira aposta que nenhum país da África será aprovado pelo Comitê Executivo da Fifa --do qual faz parte."Muita gente fala da candidatura do Rio, mas ninguém fala da Copa do Mundo no Brasil, um antigo sonho, que está sacramentado pela Fifa. Seria fantástico para a cidade do Rio receber uma Olimpíada. Mas uma Copa tem uma abrangência bem maior. Afeta o país inteiro. Doze cidades serão beneficiadas", diz Teixeira.A negativa também envolve disputas políticas, tanto no exterior quanto no Brasil. Fora do país, o gesto pode trazer frutos a Teixeira na Fifa. A entidade vive às turras com o COI por ser tratada como "patinho feio" nos Jogos.Não beijar a mão do "movimento olímpico", colocando o futebol acima dos outros, é um ato simpático a Joseph Blatter.Em casa, a atitude tem dois alvos. O primeiro é Nuzman. Reservadamente, Teixeira diz que o presidente do COB pouco fez para ajudar o principal esporte do país e que nunca deu valor a seu trabalho na CBF. Também acha que Nuzman trabalhou para que ele fosse afastado da entidade durante as CPIs que devassaram o futebol. Argumenta ainda que, ao contrário da CBF, o COB usa dinheiro público, da Lei Piva.A antipatia é recíproca. O COB reclama que a CBF sempre cria dificuldades, seus atletas nunca ficam na Vila Olímpica e que Teixeira pouco aparece nas assembléias do comitê.O outro alvo é Agnelo Queiroz. Teixeira acha que o ministro é muito próximo de Nuzman e não deu apoio à articulação para a vinda da Copa-2014 para o Brasil. Além disso, é contra vários pontos do Estatuto do Torcedor.

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