o que foi dito em 2003
29/06/2003 - 11h49
Para COI, Olimpíada-2012 terá a disputa mais dura
da Folha de S.Paulo
A cidade brasileira que se tornar a aspirante a abrigar os Jogos-2012 terá uma tarefa inglória, pois a disputa pela Olimpíada será a mais acirrada da história. A opinião é de Jacques Rogge (pronuncia-se Rógue), 61, presidente do Comitê Olímpico Internacional.Para o belga, jamais tantas cidades qualificadas se lançaram juntas para tentar receber a Olimpíada. "Normalmente havia no máximo duas candidatas fortes, as outras eram mais fracas. Agora serão só nomes de peso", disse Rogge à Folha, por e-mail. Além de Rio ou São Paulo, tentarão ser a sede dos Jogos-2012 Nova York, Madrid, Londres, Paris, Moscou, Leipzig, Istambul e Havana -a escolha final será feita em Cingapura, em julho de 2005.E ele avisa: se os brasileiros novamente não realizarem o sonho de organizar uma Olimpíada --Brasília-2000 e Rio-2004 já fracassaram--, poderão ter de esperar muitos e muitos anos mais. Isso porque o COI vai em sentido contrário ao da Fifa e não pretende afrouxar as regras para beneficiar países de Terceiro Mundo.A entidade que comanda o futebol mundial já anunciou que fará um rodízio dos continentes. Assim, a Copa poderá ir pela primeira vez na história para a África, em 2010, e voltar para a América do Sul após 36 anos -em 2014, quando deverá ser no Brasil.Rogge declarou que a possibilidade de o COI adotar o rodízio de continentes é nula. "Só levamos em consideração para dar a um país o direito de sediar uma Olimpíada o caderno de encargos e o relatório da comissão de avaliação. Nada mais. É uma escolha puramente técnica, não política."Segundo o dirigente, a questão de a América do Sul nunca ter recebido os Jogos Olímpicos só poderia entrar em discussão se houvesse empate na avaliação entre uma cidade da região e outra de um continente que já os abrigou.Folha - No próximo dia 7, o Comitê Olímpico Brasileiro decide entre Rio de Janeiro e São Paulo qual será a cidade brasileira que tentará ser a sede dos Jogos de 2012. Como o senhor vê o lançamento de uma candidatura do Brasil? Acha que tem alguma chance?Jacques Rogge - O COI ficou satisfeito e vê com bons olhos a intenção dos brasileiros. A postulação será muito bem-vinda. Os 199 Comitês Olímpicos Nacionais foram convidados para, se quiserem, submeter o nome de uma cidade em sua jurisdição para ser concorrente. Eles ainda têm até o dia 15 para fazê-lo. De certo sabemos que será uma disputa muito forte, como nunca se viu antes, mas [sobre as chances brasileiras] tudo dependerá do projeto que [vocês] apresentarem.Folha - Até que ponto o problema da violência nas grandes cidades brasileiras pode prejudicar a candidatura olímpica?Rogge - Há um único objetivo em jogo, que é o de oferecer o melhor para os atletas e os torcedores. Se as condições de segurança apresentadas no projeto forem boas e consideradas suficientes, não haverá problemas.Folha - A América do Sul nunca recebeu uma Olimpíada. Não é chegada a hora de fazê-lo? E até que ponto o fato de ainda não ter sido sede dos Jogos pesa a favor ou contra a candidatura brasileira?Rogge - O COI é muito claro sobre o processo de escolha. O caderno de encargos e as condições para cumprir à risca o que tiver sendo oferecido são os pontos que a comissão de avaliação leva em consideração. E assim deverá continuar sendo.Folha - Quando o senhor ainda era candidato a presidente do COI, havia dito que o principal problema do Movimento Olímpico era a questão do doping. Sua administração tem feito avanços na área?Rogge - A Conferência Mundial sobre Doping no Esporte [realizada na Dinamarca, em março] nos permitiu dar um grande salto na luta para bani-lo. Depois de 30 anos de esforços descoordenados de governos e entidades esportivas, finalmente conseguimos chegar a um código para seguir. O desafio agora é implantá-lo em todos os níveis. E outro ponto muito positivo é que a Agência Mundial Antidoping [Wada, na sigla em inglês] tem feito um trabalho incansável. Agora ela tem uma sede própria, uma administração efetiva, um novo e importante conceito de observadores independentes e testes de surpresa. A Wada também tem desenvolvido muita pesquisa científica para aprimorar a lista de substâncias proibidas e novos métodos para detectá-las, além de programas educacionais para atletas e profissionais envolvidos.Folha - Após a Olimpíada de Sydney, foi muito discutida a idéia de enxugamento dos Jogos, com a redução do número de esportes praticados ou a possibilidade de realizá-los em duas cidades que serviriam como sede, e não em apenas uma, como se dá hoje. Como o senhor vê a questão do gigantismo da Olimpíada, uma de suas preocupações quando candidato?Rogge - Já houve um avanço. O COI decidiu limitar o número de esportes [serão 28 em Atenas-2004, com 300 provas e 10.500 atletas na vila] e, quando terminar uma Olimpíada, vamos sentar à mesa e conversar. A comunidade olímpica fará uma avaliação de como foram os esportes nos Jogos anteriores e daí decidiremos como agir. Alguns deverão sair, outros continuam, porque o que interessa é manter a qualidade. O gigantismo não era uma solução. Mesmo que não haja um enxugamento, certamente haverá uma maior qualidade geral. Cada modalidade tentará fazer o máximo para provar que deve continuar na Olimpíada.Folha - E o futebol?Rogge - Conversei algumas vezes com Joseph Blatter [presidente da Fifa], e ele sabe da importância dos Jogos também para o futebol. É o segundo esporte [numa Olimpíada] em audiência de TV, e ninguém em sã consciência acharia isso pouco.Folha - O Usoc [comitê olímpico norte-americano] está atolado em denúncias de corrupção. Como o senhor vê o caso?Rogge - Não seria delicado de minha parte comentar o caso, mas posso dizer que o Usoc está tentando mudar sua estrutura e tem o apoio do COI.Folha - No início do ano, o senhor demonstrou publicamente sua preocupação com as obras para os Jogos de Atenas, marcados para agosto do ano que vem. Em que estágio elas estão atualmente?Rogge - Os preparativos em Atenas estão totalmente sob controle, e estamos confiantes de que os gregos organizarão uma excelente Olimpíada em 2004. É verdade que os prazos são apertados e nenhum dia pode ser desperdiçado, mas o comitê organizador e o governo grego têm trabalhado bem em conjunto para fazer as coisas acontecerem.
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