O Pan e a segurança no Rio
Por MAURÍCIO MURAD
Em todos os grandes eventos esportivos, a segurança é prioritária.
Preserva os investimentos, a integridade das pessoas, a festa popular.
Desenvolver a cooperação entre polícia e população, o binômio inteligência-prevenção e os fundamentos sócio-educacionais do esporte são exigências das entidades internacionais, para os jogos e para depois deles, como legado. Seul, Barcelona e Andorra são bons exemplos dessa estratégia.
O Rio lançou sua candidatura em 1998 e foi confirmado em 2002, quando venceu a final contra San Antonio, Texas/EUA, reduto eleitoral do presidente Bush, que mergulhou na campanha.
Em julho de 2007, foi feito um estudo sobre os Jogos Pan-americanos e a segurança no Rio, com 2410 homens e mulheres de diferentes idades, classe social e escolaridade, nas 15 áreas esportivas do evento.
Depois de 5 anos, 89% dos pesquisados não sabiam nada ou sabiam pouco do plano de segurança, que custou R$ 562 milhões, segundo dados oficias.
Pior que a desinformação, o objetivo de se criar um conceito novo de segurança, parece, não foi alcançado.
O envolvimento dos moradores, para se construir uma rede de apoio à ação das autoridades, tendeu a zero: quase nenhuma participação de associações, sindicatos, empresas, ongs.
"Por que não ouviram a sociedade?", perguntou um.
"Segurança tem que ser integrada, para aumentar a confiança e melhorar os resultados", concluiu outro.
E a conduta habitual da polícia em jogos e espetáculos foi considerada ruim (72%), também por isso: além do despreparo, o desconhecimento da realidade.
O que ficará de fato da segurança do Pan?
Nada ou pouco foi a resposta de 83%.
A descrença no discurso oficial e o sentimento de impunidade foram freqüentes em toda a pesquisa, quase unânimes entre os jovens (14 a 25 anos) e giraram em torno destas idéias: "isso é só pra gringo, depois a violência volta a correr solta. Pior que a corrupção é a impunidade e pior ainda é achar que é assim mesmo. Se precisamos tanto de valores, por que as escolas não participaram mais do Pan?"
Nota importante: foi observado um aumento da descrença e do sentimento de impunidade após o desastre aéreo, em SP, dia 17 de julho.
Que efeitos imediatos do Pan gostariam de ver para o Rio e até para outras cidades?
O policiamento ostensivo, que foi o maior ganho do Pan (78%), porque ajuda a reduzir o clima de insegurança, a criminalidade e a ação de flanelinhas, camelôs e cambistas, que ainda assim ficaram meio à vontade durante os jogos.
E mais: melhorias no transporte coletivo e no trânsito - "engarrafamento facilita arrastão"; na sinalização e iluminação da cidade - "escuridão incentiva violência"; leis duras e ações preventivas; integração entre município, estado e governo federal na área da segurança, considerada essencial (93%) para melhorar a qualidade de vida em todos os bairros estudados.
Houve também propostas estruturais, como aumentar o emprego e a renda, melhorar educação e moradia.
As sugestões imediatas predominaram nas classes mais altas.
As de longo alcance, nas camadas mais baixas.
Já entre os jovens, de classe, escolaridade e moradia diversas, houve coincidência na herança desejada: uma imediata – aplicar a lei – outra estrutural – mais emprego. Ambas vistas como complementares entre si, por 67% deles.
O Pan foi bonito e o Rio, uma cidade esportiva, não fez feio.
Instalações de alto nível voltadas para o futuro.
Mas poderia/deveria ter feito mais e controlado melhor os custos.
Esporte é atividade sócio-educativa, expressão de nossas identidades, fator de socialização.
Não resolve nossas questões básicas, mas pode agregar valores relevantes.
Então, que venham os resultados do Pan 2007!
Que os esportes ultrapassem os campos, as quadras, pistas, piscinas e contribuam para a inclusão, o desenvolvimento e a paz social.
Assim, o projeto de sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 terá mais legitimidade.
Maurício Murad é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e do Mestrado da Universo.
do blog do juca kfouri
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
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